quarta-feira, dezembro 06, 2006

Bordados da vida

Olho pra bolsinha de crochê branca, fofa, linda, onde guardo meus carinhos pela vó Noêmia. Toco, sinto e posso imaginar as mãos de bordadeira que abraçaram o mundo, que embalaram dois filhos e que tanto acariciaram os três netos e a bisneta Manu, e mais aqueles tantos outros que se fingiram de netos pelo caminho só para serem acariciados pelas mãos de avó querida.

Mulher de luta, de orações, de otimismo e de viver uma vida em família, mansa, tranqüila e feliz. Em sua mesa, encontrava-se o “café-com-leite” misturado com amor, o bolo de fubá com recheio de generosidade e um perfume que exalava a sensação de paz! O tempo por lá parava e ficava, como um livro com figuras, repleto de histórias e memórias.

Lá pelas tantas, após um casamento e dois filhos, após uma viuvez precoce, Vó Noêmia encontrou um anjo no caminho. Um anjo que vinha lhe dar boa noite todos os dias com um aceno pela janela. Uma história de amor de “amor pra sempre”, dessas em extinção, que não existem mais. Este anjo a acompanhou por todos esses anos de sorrisos, de conquistas, de caminhada.

E agora, vó Noêmia? Como serão os Natais em Tatuí? E o coraçãozinho de Suely? E os bordados, os bolos, as histórias, os causos, as partidinhas de buraco? E os e-mails desta bisa tão modernosa? E a doce Lara? O lôro tricolor? Ficamos todos órfãos da sua presença calorosa, com saudades ternas e eternas.

*** Vó Noêmia é uma avó adotiva. Faleceu esses dias. Lembrei muita da minha vó, que morreu faz quase cinco anos. Não somos preparados pra morte e, talvez, por isso que faz doer tanto dentro da gente. E a dor de saudaes da vó acontece de mansinho, aos poucos, principalmente nos natais, anos novos, aniversários... E até hoje nas festas de família, no bolo de castigo, nas músicas de Roberto Carlos, nos chinelinhos de dormir... Vó é pra sempre e o fato de não termos mais seu colo quente e carinhoso não faz com que ela não esteja mais presente. Ela sempre estará, independente da morte. A Vó da gente é tão poderosa, que é eterna.
E reproduzo aqui, neste momento de avós eternas, a crônica que fiz para minha vó Cadinha. ***


Minha Vó!

Pequenininha, miúda, encolhida... ali estava minha avó, no meio de flores sem vida e sem cheiro. Triste cena... ela que sempre foi tão enérgica. Senti um aperto no peito no momento em que a vi, ali, no centro das atenções, motivo de lágrimas e encontros raros.

Minha avó morreu... depois de 79 verões, dos seus inúmeros banhos de mar, de 11 partos, de muitas rezas, de muitas costuras, de bolos com sorvete, de crônicas do Lourenço Diaféria, de canções do Roberto Carlos, de cuidar do meu avô, de assistir ao nascimento dos seus 32 netos... e curtí-los... alguns mais, outros menos...

A minha vó, que sempre foi tão brava com a minha mãe querida, sempre tão bajuladora do meu irmão Romeu, tão sogra do meu pai, sempre tão vó pra mim. A minha vó que viajou de trem comigo para Santos, que fazia bolo de coelho na Páscoa, picolé de manga no verão, que costurava minhas roupas quando estavam rasgadas, assim mesmo como quem estanca uma dor sentida quando sentíamos seu afago. A minha vó que me balançava na rede, que levava a gente à praia, que me daa chupeta escondida do meu pai e que aprontava com suas mãos generosas nossos chinelinhos feitos de pano.

Grande Vó! Você que era tão baixinha de estatura, mas tão grande na sua energia. Sabia ser pimenta e mel ao mesmo tempo. Sabia ser conservadora e liberal em alguns momentos...

Ah, Vó! A praia nunca mais foi a mesma sem você. Nem o Ano Novo, nem o Natal, nem o dia 07 de fevereiro. E saiba que, quando tiver um filho, um dos bisnetos que sempre desejou, saberá da existência e da história dessa pessoinha tão importante e necessária em nossas vidas. Mãe, mulher e avó!

7 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Mônica, parabéns pelo lindo texto, e pelas lindas homenagens. Me fez chorar um bocado!
"Cada avó que morre, arrasta consigo um mundo."

7:57 PM  
Blogger Mônica said...

Natália, muito obrigada pelas suas visitas e pelos comments. Aliás... estou curiosa... Você tem blog, não? Qual é o endereço?

9:16 AM  
Blogger Juliana said...

Oi querida!
Que lindo post! Uma vez, beeeeem antes de ter um blog, eu também escrevi um texto sobre a falta das minhas avós na minha vida... vou ver se acho e publico em sua homenagem! :)
Aproveitando... na verdade não é o Brás que é chamado de Jótapê, mas sim a própria JP, ou seja, José Paulino... boa sorte na sua expedição! Quem sabe ainda volto lá antes do Natal tb...
Bjos!
Juju

3:57 PM  
Blogger menina said...

Credo! Doído de tão lindo. Só quem tem ou teve vó sabe o que é. Beijão!

5:03 PM  
Anonymous Anônimo said...

Olá Mônica! Cá estou eu, novamente!hehehe.
Imagine, desde que descobri o seu blog, gosto muito de vir aqui, pois você tem muito talento para escrever.
Então, eu tenho ou tinha um blog, mas estou abrindo mão... E continuo insistindo com um fotoblog, mas também já estou pensando em desistir. Sabe-se lá Deus o que acontecerá com o pobrezinho! :P
Mas de qualquer forma, aqui está o endereço: http://gardenia.nafoto.net

Beijos!

6:35 PM  
Anonymous Anônimo said...

Vozinha Cadinha... estava na literal essa semana e lembrei dela... e aqui, vc também lembrava. Texto lindo.

6:10 PM  
Anonymous Anônimo said...

Vozinha Cadinha... estava na literal essa semana e lembrei dela... e aqui, vc também lembrava. Texto lindo.

6:10 PM  

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