segunda-feira, maio 21, 2007

Meu target

Ele era mais alto que eu, mas não muito. Usava um gorro azul que escondia seus cabelos castanhos e finos. Carregava uma mochila nas costas como quem carrega o mundo todo, andarilho da cidade, sem casa, sem rumo, apenas ele e suas idéias. Fumava. E seu olhar não traduzia nada. Mistério.

Quando o cobrador do ônibus perguntou se cobrava duas passagens, olhando pra nós dois, ele disse que não. Mas logo resolveu conferir quem vinha atrás. E eu senti um arrepio com aquele olhar que me despiu. Pude adivinhar de que forma ele faria, que me jogaria contra parede e me faria uma mulher feliz.

Fiquei sem jeito, claro, olhei para os lados, dei um discreto sorriso. E, durante o percurso, ficamos nos procurando, num jogo que fascina, de olhar querendo-e-disfarçando. Ele saltou na Paulista, uns três pontos antes do meu, e nenhuma palavra trocamos. Mas quem sabe a gente ainda não se encontra pelo bairro. Definitivamente, o menininho de olhar Dermot Mulroney era meu “target”, como diz a minha amiga Mariana.