Remendas

Eu já não tremo quando ouço carros roncando pelas ruas do bairro, nem choro todas as sextas-feiras ao entardecer. O chá de cidreira que virou calmante lá em casa outrora, já não é mais tão popular assim. Tomo café-com-leite e outros líquidos que me deixam bem acordadas para viver cada minuto da noite.

Algumas canções eu não gosto mais de ouvir. Meu gosto apurou-se nesses dois anos. Pra melhor! As fotos estão esquecidas num canto do armário que nem ouso remexer.

Já não sinto raiva de Londres, nem da microsoft e nem da televisão lá do quarto. Objetos e lugares que participaram de uma história que não é mais e que parece tanto tempo que já foi. Quando faço um sanduíche no pão sírio não divido, como inteiro, sem manias e uma vaga lembrança.

Tá bom, eu sei, desde então nunca mais me apeguei. Me fechei. Só abri umas frestas, bem de leve, bem esporádico. Amigos disseram que perdi o brilho, talvez eu tenha perdido mesmo. Eu nunca mais fui como antes, confesso.

Mas sabe... pensando bem... eu agora me sinto ótima. Louca para viver em MAIÚSCULO. E o que restou aqui neste coração rasgado não foi nada. Pois justamente pra ele, pra este franco-atirador, eu nunca escrevi nada lindo, nenhuma blônica de amor, ou de amizade, ou de saudade. Só escrevi coisas rabiscadas, magoadas, que nem sempre foram publicadas. Dele não quero mais nada, nem um sorriso, nenhuma palavra...

É engraçada a vida da gente... A costura das histórias vai se tecendo, outras vão acontecendo e na emenda a gente vai se encontrando, se inspirando, contando e amando, de novo, amando.