quarta-feira, abril 28, 2010

547

Poderia ser punida por tantas coisas... Por esses meus olhos miúdos e sem definição mas que apreciam tanto as paisagens escondidas. Pela minha insistência em pintar as unhas com cores fortes na expectativa de fazer com que isso me traga mais distração nos dias cinzentos de chuva. Poderia mesmo ser presa num calabouço dos normais por me achar diferente da grande maioria e de fazer poesia com isso.

Porém, punida e culpada por viver um momento que nasceu há tanto tempo entre sorrisos compartilhados, acordes maiores e menores diante de um professor cabeludo, de abraços que foram melhor que muitos beijos que vieram depois? Punida por ter corrido junto, por ter topado, por ter selado uma quentura que ardia na terra e em nós? Punida por ser eu, mulher, menina, moleca, guerreira, poética sempre, no meio das montanhas que tanto me fizeram companhia ao longo de todos os meus devaneios juvenis? Punida por ter sido tão sincera, por ter gostado tanto e por querer 547 vezes mais? Punida ainda assim?

E nessas conversas que temos por sonho ou por pensamento - durante as fendas que o tempo propõe - quando você se permite ser aquele cabra inteiro, consciente do seu transbordamento e com olhar que abraça o mundo ao seu redor, eu te admiro tanto. E gosto ainda mais daquele seu jeito moleque, um tanto selvagem, e de uma doçura de amolecer qualquer mágoa que tenha ficado nas arestas dos nossos corpos machucados. Porque é nesta terra do nunca que você se despe de todos esses figurinos de culpa que o cotidiano que escolheu lhe faz vestir.
É neste estado onírico dos intervalos de uma piscadela ou outra que almejo que o seu pensamento mais verdadeiro lhe resgate deste mar de confusão e faça você enxergar o quanto a nossa história foi coerente com as nossas vontades, uma caixinha de segredos guardados que vai envelhecer colorida, de aventuras compartilhadas no milharal cheio de fertilidade, de suores cúmplices e de boas lembranças. E é só. Apenas isso. Sem repetições e divagações. Simples como os filmes de Wong Kar Wai.

3 Comments:

Blogger Taís said...

Incrível como você lê meu coração...esse texto parece escrito por mim - não que eu escreva tão bem quanto você, mas simplesmente porque fala exatamente do que tá batendo aqui no peito...
Obrigada Môs
Saudades
Tams

1:32 PM  
Blogger Carolina said...

Putz... forte esse texto, hein, Moniquinha?! Ai, ai...
bjo

11:19 PM  
Blogger Caio Csermak said...

...

1:11 PM  

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